O japonês paraguaioFoi no sétimo ano. A professora acabara de entregar as notas. Então, na frente de toda a turma, se voltou pra mim e perguntou: “o que aconteceu com o japonês desta sala?”
Era pra ser uma piada: eu havia tirado “só” 7 na prova.
Porque japonês é inteligente. Não eu: qualquer japonês. Uma qualidade inata, geralmente voltada para área de exatas. E eu era inteligente de fato, nesse sentido escolar bem restrito. Qualquer nota diferente de 10 fazia de mim uma decepção. E o 10, quando vinha, não era mérito meu, mas mérito de toda a raça. Somos uma só entidade, e, por isso mesmo, todos iguais.
Enfim, eu tirava boas notas. Era popular entre as mães dos alunos. Todas elas mandavam os filhos lá em casa, pra estudar e pegar o bom exemplo. Porque japonês é disciplinado. Não eu: qualquer japonês. Mas fora da escola minha vida era outra. Eu não queria mais nada com aquilo. E tinha um campinho do lado de casa: “uma partida, e a gente volta e estuda…”
Sempre havia novos garotos no campo. E toda vez sucedia uma primeira impressão. Já viu japonês bom de bola? Só karatê, kung fu, arte ninja. É que a gente nasce de cesariana invertida, e abre a barriga na base da espada. Ao contrário do negro, que é Robinho ou Pelé, e já nasce fazendo embaixadinha.
Adianta lembrar que sou brasileiro? Eu nem sei falar japonês. Descendente, sim, de japoneses (e também de espanhóis, e de portugueses…) Mas eu tenho esses “olhos puxados”. “Cabelo bom, olha só que lisinho!” E isso basta pra dispensar o meu nome. Qualquer referência oriental tá valendo. Então primeiro se escolhe “o negão”. Por último, “vai o jackie chan mesmo”.
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