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Rita, eu estou revivendo sempre
o mesmo dia de novo e de novo.

(Phil em “O dia da marmota”)

 



REVEILLON

encaro o ano novo

o ano novo me encara


nos beijamos

não lhe peço nada


desta vez o amor é por minha conta  


 

INVICTO

medo de morrer aos poucos

definhando ileso e intato

na ordem dos anos 

e da má postura 

me poupando até que acabe

sem doer o que me baste

sem perder o que me resta

privado da grande derrota

que me arrase e desintegre

nas revoluções e amores 

que meu corpo desconhece...


...sobrevivendo de bom grado

ao fim de tudo que conheço

chego a mais uma noite invicto

inimigo de mim mesmo


 

DESOBEDIÊNCIA CIVIL

à sua busca

meus cães farejadores 

minhas forças táticas especiais


mas a felicidade é o vândalo da alma


ou se é cúmplice

ou já é tarde demais

 

 

A DISTÂNCIA

você era tão bonita

que chegava a doer a vista


a distância 

a distância

entre você

e o que eu podia


hoje a distância é outra

e eu já não posso nada


você era tão bonita

que ainda me dói a vida

 


O OUTRO

sempre viajo

sentindo que posso 

de repente não voltar mais


e a coisa sempre se cumpre


é sempre outro que volta


o outro imita meus gestos

repete meus erros 

diz de novo o que eu digo


às vezes até sonha comigo 

mas desperta e não lembra de nada 


o outro 

subtraído 

dos eus que ainda vivem 

em cada parada  

 

...

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